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Apresentação

Caros leitores,

É com enorme prazer que trazemos para o seu conhecimento a matéria multimídia sobre o fechamento do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP), mais conhecido como Museu do Ipiranga.

Este trabalho foi elaborado para a disciplina de “Jornalismo e Mídias Digitais” do curso de pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo, ministrado na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Nele, transmitimos, através de textos, entrevistas, imagens e vídeos, as causas, consequências e outras questões do fechamento do museu para restauro, distribuindo-as por quatro canais diferentes, a saber: o blog “A Máquina do Mundo” (onde tudo acontece) e FacebookTwitter e Youtube , responsáveis pela interação direta com vocês, nosso público.

Gostaríamos de agradecer a todos que contribuíram para a realização deste trabalho: os entrevistados, Professora Dra. Sheila Ornstein, diretora do Museu Paulista; Paulo Sergio Barbara del Negro, professor de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie, e Francisco Zorzete, um dos responsáveis pela Companhia do Restauro; aos colaboradores externos, Kei Kamishige, nosso editor de vídeo, Rodrigo Rodrigues, o criador de nossa linha do tempo, Francisco Angelo, da SPTrans, pelos dados sobre o Terminal Sacomã, e a todos que ajudaram, de alguma forma, na divulgação de nossas redes sociais e blog (mais de 215 curtidas em uma semana!).

Esperamos que vocês entrem profundamente na leitura de nossa reportagem assim como nós fizemos ao realizar todo o processo de criação, escrita, escolha de imagens e vídeos, edição e, por fim, exibição do conteúdo.

Boa leitura!

 

Equipe A Máquina do Mundo

Equipe

Cristina Abreu

Fábio Marino

Marina Bufon Nunes

Paulo Hebmüller

Vivian Lourenço

 

A História interditada

O tradicional Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, está fechado para visitação desde agosto do ano passado e se prepara para passar por um grande processo de restauro ainda sem data para terminar

Por: Paulo Hebmüller

Imagem vista de outro ângulo. Vê-se, também, o bosque que ocupa a área de trás do museu e que também vem causando problemas de fungos e umidade. Foto retirada de blog.brenosiviero.com.br
Imagem vista de outro ângulo. Vê-se, também, o bosque que ocupa a área de trás do museu e que também vem causando problemas de fungos e umidade. Foto retirada de blog.brenosiviero.com.br

A notícia pegou os paulistanos de surpresa no início de agosto de 2013: o Museu Paulista da USP – mais conhecido como Museu do Ipiranga – fechava suas portas à visitação para passar por uma série de reformas sem prazo para terminar. O imponente prédio de 6,3 mil metros quadrados e 62 salões, centro das atrações do Parque da Independência e marco do desenvolvimento da região do Ipiranga, era uma das instituições culturais mais visitadas do País, recebendo de 2.500 a 3 mil pessoas por dia.

O palacete em estilo neoclássico italiano foi inaugurado há mais de 120 anos, e em sua história sofreu diferentes intervenções – várias delas, por sinal, ao longo do tempo revelaram-se inadequadas aos padrões e tipos de materiais utilizados na construção. Por conta da manutenção deficiente à qual o edifício vinha sendo submetido nos últimos anos, a direção já sabia que seria necessário fechar suas portas para um longo processo de recuperação das instalações.

Para evitar acidentes Museu foi interditado. Interior do monumento também tem vários pontos que precisam ser restaurados
Para evitar acidentes Museu foi interditado. Interior do monumento também tem vários pontos que precisam ser restaurados Crédito: Máquina do Mundo

Dois fatores, porém, anteciparam a decisão. O primeiro foi o desplacamento de um trecho do forro central de um salão do segundo piso da torre oeste. Havia o risco de um descolamento total desse forro, o que provocaria a queda de cerca de 20 toneladas de material de uma altura superior a dez metros – todas as salas da construção têm pé direito alto, de 10 a 15 metros. O mesmo tipo de problema atingiu um trecho do forro do Salão Nobre do edifício, onde está exposta a obra mais conhecida do Museu: o quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo. A saída foi impedir a visitação para que o escoramento dessas estruturas pudesse ser feito sem colocar em perigo funcionários e o público.

Sheila Ornstein Foto: Francisco Emolo (Jornal da USP)
Sheila Ornstein
Foto: Francisco Emolo (Jornal da USP)

“Não podemos dizer que o responsável pelo quadro atual é a USP, ou este, ou aquele, mas há todo um conjunto de situações que levaram a esse estado”, diz a diretora do Museu, Sheila Walbe Ornstein, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP – a Universidade administra a instituição desde 1963. Para a arquiteta, a preocupação da direção do Museu Paulista e do reitor e vice-reitor da USP (respectivamente Marco Antonio Zago e Vahan Agopyan, empossados em janeiro deste ano) é de que seja realizado “um trabalho de restauro integral muito bem feito e com muita qualidade”. “Por isso é que estamos fazendo um planejamento, incluindo diagnósticos e projetos, extremamente rigoroso”, completa.

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Livro reúne 50 histórias sobre o Museu

A história do Museu do Ipiranga

Depois do fechamento, outras salas receberam escoramento, inclusive a biblioteca, que abriga inúmeros volumes raros. Com essas medidas, parte da equipe de cerca de cem funcionários da instituição pôde voltar a trabalhar no prédio. Outra parte, inclusive a própria diretora – que assumiu o cargo em março de 2012 –, está trabalhando numa casa que o Museu já utilizava como anexo, ao lado do Parque da Independência. A copa desse imóvel foi adaptada para receber a diretoria.

Parque o Ipiranga continua com funcionamento normal
Parque o Ipiranga continua com funcionamento normal Crédito: Máquina do Mundo

Ainda no segundo semestre do ano passado, falava-se numa previsão de reabertura somente para o ano de 2022, coincidindo com o bicentenário da Independência do Brasil. Essa estimativa, no entanto, não é mais confirmada. Embora não verbalizado, o desejo da direção e da USP é de que o prazo seja menor.

O ano de 2014 será o dos levantamentos dos problemas (o diagnóstico), elaboração de projetos para o grande processo de restauro e retirada dos acervos do edifício. Só depois disso é que se poderá começar a falar mais objetivamente em prazos e custos, observa Sheila Ornstein: “Sei que é a intenção do atual reitor realizar as obras no menor espaço possível, mas a gente precisa ainda fechar algumas dessas variáveis da equação de forma mais concreta para dar uma informação mais precisa, tanto de tempo quanto de custo. A ideia da Reitoria é ir atrás de recursos também externos, e para isso precisamos terminar essas etapas de diagnósticos e projetos, porque somente a partir dos projetos a gente consegue orçar.”

 

Mudanças e sobrecarga

A ideia de erguer um edifício-monumento para celebrar a Independência no local em que o “grito do Ipiranga” teria sido dado foi do próprio imperador D. Pedro I, logo após a proclamação de 7 de setembro de 1822. Entretanto, a obra só começaria a ser construída em 1885, sendo inaugurada cinco anos depois. O uso do prédio também mudou ao longo do tempo, e por isso muitas alterações foram feitas nele, inclusive em sua estrutura.

Por todos os lugares, pintura está descascando. Restauração prevê devolver cor original do monumento.
Por todos os lugares, pintura está descascando. Restauração prevê devolver cor original do monumento. Crédito: Máquina do Mundo

Essas mudanças, conforme explica Sheila Ornstein, começaram já nos primeiros anos de existência. Da concepção inicial de um edifício-monumento que abrigaria poucas obras – como “Independência ou Morte”, pintura feita especialmente para o prédio –, logo se passou a utilizar os espaços para um museu de história das ciências naturais, cujo acervo mais tarde daria origem ao vizinho Museu de Zoologia da USP.

Quanto mais finalidades eram dadas ao local, mais espaço era necessário para abrigar as peças. Nas décadas de 1930 e 40, uma grande reforma foi feita no subsolo, responsável pela ventilação higiênica do prédio. As chamadas fundações diretas, de grande porte e feitas com pedras e argamassa, foram cortadas para a criação de áreas expositivas e salas administrativas. A ruptura da continuidade das fundações gerou uma desestabilização das torres que só foi corrigida décadas depois, já no início dos anos 90.

Área interna do Museu Paulista da USP. Foto retirada de www.scielo.br
Área interna do Museu Paulista da USP. Foto retirada de http://www.scielo.br

O Museu do Ipiranga abriga hoje um impressionante acervo de cerca de 700 mil peças: são livros, documentos de vários tipos, mobiliário, obras de arte, louças, medalhas e até veículos. Receber todo esse volume de material não estava previsto no projeto original, o que acarreta sobrecarga às estruturas. Outros fatores que ao longo do tempo contribuíram para a deterioração do prédio foram a maior ocorrência de chuvas ácidas, fruto da industrialização da cidade, e os abalos provocados pelo tráfego pesado e constante de carros, ônibus e caminhões – coisa que os idealizadores do palacete jamais imaginariam quando projetaram sua construção num ponto elevado e então isolado de São Paulo.

 

Acervo será retirado

Entre julho de 2013 e janeiro de 2014, uma equipe interdisciplinar, incluindo técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e outros especialistas, trabalhou no diagnóstico das áreas externas, abrangendo todas as fachadas, a caixilharia (portas-balcão em madeira), coberturas, claraboias, recuperação das argamassas externas, pinturas e coletores de águas pluviais. O relatório com o resultado das análises e ensaios foi entregue no início de março e servirá de base para os projetos de restauro.

Em relação ao interior do prédio, primeiramente será feita a retirada de todos os itens do acervo. “Por que tirar tudo antes de qualquer obra e mesmo antes do diagnóstico? Porque isso envolve recolha de amostras de argamassa e muita movimentação de operários, e aqui é uma área de segurança. Além disso, essas ações, mesmo numa fase de projeto e diagnósticos, envolvem muita poeira, e poeira não combina com acervos”, explica a diretora. Alguns itens serão cedidos para exposições em outros locais.

Os funcionários vêm mantendo as condições de higienização de todos os itens ainda expostos e da reserva técnica. A direção está fazendo cotação de imóveis na região do Ipiranga e também de depósitos especializados que possam receber o material durante os trabalhos de restauro. O acesso ao acervo nesses locais precisa ser mantido durante todo o período em que o Museu estiver fechado para que os funcionários possam garantir sua conservação adequadamente, e também para que os muitos pesquisadores que se utilizam dos arquivos, documentos e peças como fontes não tenham seu trabalho prejudicado.

Salão Nobre com visitação antes do fechamento para restauro. Ao fundo vê-se a obra Independência ou Morte, de Pedro Américo. Imagem retirada de www.usp.br
Salão Nobre com visitação antes do fechamento para restauro. Ao fundo vê-se a obra Independência ou Morte, de Pedro Américo. Imagem retirada de http://www.usp.br

O quadro “Independência ou Morte” é a única obra que não será retirada. O risco de que a peça sofresse danos com a remoção é grande devido ao tamanho e ao peso do quadro e sua moldura (somente a tela tem 4,15m de altura por 7,60m de largura). “Chegou-se à conclusão de que a melhor situação para ele é ser protegido contra impactos e qualquer dano aqui no edifício”, diz Sheila Ornstein.

Todas as etapas do restauro serão acompanhado pelos órgãos de preservação do patrimônio histórico, uma vez que o prédio e seu acervo são tombados em nível municipal, estadual e federal

Como funciona o processo de restauro

Companhia de Restauro fala sobre o assunto

“Vamos manter a população informada sobre esse passo a passo das atividades que envolvem o restauro do Museu”, garante a diretora. Nada mais justo, em se tratando de um patrimônio que diz respeito à história do Brasil e, portanto, a todos os brasileiros.

Confira mais vídeos da entrevista com a diretora do Museu, Sheila Walbe Ornstein

Ipiranga – história de São Paulo

Por: Marina Bufon Nunes

Hoje tomada por trânsito, pessoas das mais diversas classes sociais, paisagens urbanas muito diferentes das encontradas em livros e documentos históricos, a região do Ipiranga é considerada um grande marco histórico para a cidade de São Paulo e também para o Brasil. Infelizmente, os dados e imagens históricos dos tempos de suas origens são escassos, e tentarmos reviver aquele século XVI torna-se um pouco complicado – mas não impossível.

A região

A região do Ipiranga se localiza na zona sul da cidade de São Paulo e seu nome faz alusão ao riacho do Ipiranga (apesar de controvérsias sobre a interpretação da palavra, a versão mais aceita é de que “ipiranga” significa em tupi “lugar onde correm terras barrentas”).

 

Foto 1bairro
Imagem da localização do bairro retirada de http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cd/Ipiranga.png

O Ipiranga, por sua localização geográfica, se consagrou como caminho a ser passado por muitos viajantes vindos da região central da cidade em direção à Serra do Mar. Não é por acaso que Dom Pedro I, chegando de uma viagem por Santos, proclamou ali a independência do Brasil em 1822, às margens do riacho do Ipiranga, o que consagraria o lugar como marco nacional.

Marco do provável local da Proclamação da Independência (1918). Foto retirada da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária (Rodolfo Martino), p. 48
Marco do provável local da Proclamação da Independência (1918). Foto retirada da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária (Rodolfo Martino), p. 48

A região do Ipiranga também se desenvolveu de outras formas. A construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1867) permitiu que ela se tornasse mais industrial (a posterior inauguração da estrada Anchieta, em 1947, possibilitou isso ainda mais). O Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, bem como o Monumento e o Parque da Independência, também foram vetores de atração para a região. Aqui fica claro que, por vezes, a história desse bairro se confunde com a história do próprio país.

Em 1900, São Paulo tinha com uma população de aproximadamente 240 mil habitantes, e a região do Ipiranga começou a colaborar bastante para o aumento desse número. Isso se deu, entre outros fatores, pela industrialização desse local. A primeira indústria construída foi a Irmãos Falchi, no ramo da cerâmica. Em 1905, a Sacoman Frères e Cerâmica Vila Prudente tornaram-se suas concorrentes. Indústrias têxteis também fizeram parte desse cenário.

Junto a essas indústrias, máquinas e funcionários cada vez mais se tornavam parte do bairro – e, para haver essa movimentação de pessoas, bondes e trens foram necessários. A primeira linha de bondes foi inaugurada em 1900 e trabalhou por 67 anos. Já as de ônibus eram muito precárias, escassas e caras, tornando-as pouco utilizadas na época. Um dado interessante é o salto populacional impulsionado pela industrialização da área, juntamente com a implantação desses meios de transporte coletivo: em 1920, a população do Ipiranga era de 12 mil habitantes; em 1934, já somava 40.825.

 

O Ipiranga hoje

O Ipiranga é um distrito que engloba os seguintes bairros: Alto do Ipiranga, Dom Pedro I, Ipiranga, Vila Carioca, Vila Eulália, Vila Heliópolis, Vila Independência, Vila Monumento e Vila São José, com população estimada em 94.787 mil pessoas em uma área de 10,5 km² (dados de 2010 – IBGE). Juntamente com os distritos Sacomã e Cursino, compõe a região que também leva o nome Ipiranga, com população de 425.932 habitantes[1].

A chegada de outros meios de transporte coletivo, como o metrô, atraiu à região muitas pessoas em busca de cultura, lazer e ensino. Diante disso, a expansão imobiliária foi inevitável, e aquele cenário vazio encontrado em imagens antigas é hoje irreconhecível.

Foto do bairro do Ipiranga hoje[2]
Foto do bairro do Ipiranga hoje[2]

Nesse bairro se encontram avenidas de trânsito pesado (Anchieta, Imigrantes, Bandeirantes, Ricardo Jafet, Tancredo Neves, entre outras); a favela de Heliópolis, hospitais, hipermercados… Enfim, todos os sintomas de um grande complexo urbano.

Na área, além dos monumentos, há muitas escolas e universidades (unidades da PUC e da São Camilo, por exemplo), postos de saúde, comércio, bibliotecas, feiras livres, centros esportivos e culturais. Os equipamentos de mobilidade se tornam cruciais para a região. O Ipiranga é servido por estações da Linha 2-Verde do Metrô. Uma delas, a Sacomã, funciona junto ao terminal de ônibus do Sacomã, que tem uma demanda média de 55 mil usuários. São oito plataformas, sendo seis no piso térreo e duas no segundo andar, onde para a linha 5105-10, do Expresso Tiradentes. No terminal operam 24 linhas municipais, sendo 18 da empresa Via Sul e seis da Cooperativa Cooperpeople. Há ainda 18 linhas intermunicipais, gerenciadas pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), que vêm dos municípios vizinhos de São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Diadema e Mauá.

Não só focado em atividades industriais, o bairro também conta com muitas opções culturais e gastronômicas além das já comentadas, como o Museu de Zoologia da USP, o Museu do Automóvel de São Paulo, clubes atléticos, o SESC Ipiranga, o Aquário de São Paulo e o Mercado Municipal do Ipiranga, além de cinemas, teatros, restaurantes, shoppings etc. Não é à-toa que a densidade populacional ali é de 90,27 hab/ha.

 

A região concentra grande quantidade de monumentos tombados: Instituto Padre Chico, Educandário Sagrada Família, Internato Nossa Senhora Auxiliadora, Instituto Cristóvão Colombo, entre outros, o que a faz ser uma espécie de museu a céu aberto na cidade.

 

Para mais informações sobre a história desse bairro tão peculiar da cidade de São Paulo, visite.

Todas as informações históricas aqui escritas foram retiradas da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária” (Rodolfo Martino).

 

Livro reúne 50 notícias sobre história do Museu

Por: Paulo Hebmüller

Em 2009, uma pesquisa feita com moradores sobre a relação que os paulistanos têm com a sua cidade listou pessoas, lugares e instituições identificados como “a cara de São Paulo”. Na categoria museu, o mais votado pelos entrevistados foi o Museu do Ipiranga, enquanto o Monumento da Independência foi o escolhido na categoria monumento. A notícia, publicada no Jornal da Zona Leste, inspirou o título do livro Cara de São Paulo, lançado no início deste ano pelo Museu Paulista da USP.

livro cara de sao paulo

O volume reúne 50 notícias sobre os museus Paulista e Republicano Convenção de Itu, em comemoração ao cinquentenário de incorporação das instituições pela Universidade de São Paulo. Nesse período, cerca de 10 mil notas, notícias e reportagens foram publicadas em jornais, rádio, TV e internet sobre os museus. O conjunto das 50 notícias selecionadas “privilegiou matérias especiais de cobertura de temas importantes na trajetória de nossos dois museus: a incorporação à Universidade, em 1963, as exposições realizadas, as comemorações do centenário da instituição, os projetos especiais de restauração, documentação e aquisição de acervos, a participação em datas importantes para a História do Brasil e as obras e projetos relacionados ao edifício-monumento”, escreve na apresentação a diretora Sheila Ornstein.

As notícias selecionadas foram publicadas em veículos como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal da USP, Veja e jornais de circulação local, como Ipiranga News e Gazeta do Ipiranga. A organização do trabalho coube a Dorival Pegoraro Junior e Eduardo Loria Vidal, respectivamente chefe da Divisão de Relações Institucionais e assessor de imprensa do Museu Paulista. As reportagens foram reproduzidas com a diagramação e conteúdo originais de cada veículo.

O livro, feito em parceria com o Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP, é acessível para o público com deficiência visual, pois apresenta caracteres em Braille e versão em DVD com audiodescrição, em formato e-daisy. A versão impressa tem tiragem inicial de 500 exemplares, com distribuição gratuita e sem fins lucrativos. O conteúdo também pode ser acessado no site do Museu Paulista na internet, em PDF e no formato e-daisy (audiolivro).

Acesse 

 

 

 

Tombamento contribui para a memória histórica

Sob a guarda do poder público os bens de valor histórico, cultural ou ambiental são protegidos de destruição ou descaracterização

Por: Cristina Abreu

Se hoje temos obras de artes e monumentos históricos, é porque houve a preocupação de preservação da memória histórica e cultural de nosso país. E, para que exista a interação entre o novo e o antigo foi criado o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1937 que deu início ao processo de reconhecimento do valor histórico, artístico, cultural e ambiental, de bem móvel ou imóvel.

O tombamento, como é conhecido, pode ser feito, por exemplo, em fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas ou cascatas. E, é feito com a avaliação e registro que podem ser feitos pelo Poder Publico, nos níveis: Federal (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan); Estadual (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat) e Municipal (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo – Conpresp).

De acordo com o Iphan o tombamento se inicia com uma avaliação técnica e é encaminhado para a discussão às unidades técnicas responsáveis pela proteção aos bens culturais da nação. Se aprovado, o proprietário ou quem abriu o processo é comunicado e esta notificação indica que o bem está sob proteção legal até que seja aprovado o processo de tombamento, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O tombamento só é válido após a aprovação do conselho e o mesmo é homologada no Ministério Público e publicada no Diário Oficial. O prazo pode variar de processo para processo, por isso o prazo mínimo não é estipulado pelos conselhos.

Uma vez tombado, o patrimônio está sob a guarda do poder público e para eventuais restaurações, como no caso do Museu do Ipiranga, é necessária a elaboração do projeto de restauro. “No projeto se estuda todas as patologias que o edifício tem e todas as soluções”, explica Francisco Zorzete, Diretor Superintendente do escritório Companhia de Restauro, escritório técnico que concedeu entrevista à Máquina do Mundo. O projeto de restauro concluído é encaminhado aos órgãos de proteção ao patrimônio para ser aprovado. As obras só podem ser iniciadas com o aval dos órgãos onde o patrimônio está registrado.

Veja o que a Diretora do Museu do Ipiranga falou sobre os tramites relacionados ao tombado do monumento.

Dados oficiais

 

O Museu do Ipiranga foi tombado do dia 15 de abril de 1938 e as informações sobre o processo estão disponíveis no livro de Lista de Bens Culturais Inscritos nos Livros do Tombo (1938 – 2012). Neste livro estão registrados ainda mais de 45 mil bens imóveis tombados que fazem parte de 97 núcleos históricos protegidos. Abaixo dados sobre bens tombados e que estão registrados no Iphan:

 

Bens Culturais sob Proteção – 2013 (Dados do Iphan)
TIPO ESPECIFICAÇÃO QUANTIDADE
Bens Móveis Documentos textuais 3.400 metros lineares
Fotografias, mapas e plantas (iconografia) 906 mil
Livros e documentos bibliográficos 834 mil
Objetos pertencentes a museus (acervos) 250 mil
Bens integrados 417 mil
Bens Imóveis Conjuntos urbanos ou rurais 97
Edificações isoladas, equipamentos urbanos e ruínas 910
Jardins e parques históricos 10
Bens Arqueológicos Sítios arqueológicos tombados 6
Acervos arqueológicos tombados 7
Sítios arqueológicos cadastrados 19.790
Patrimônio Ferroviário Bens valorados 435
Patrimônio Naval Embarcações 4
Acervos 1
Paisagens Paisagens naturais tombadas 17
Paisagens culturais chanceladas 1

 

 Mais informações sobre processo de tombamento podem ser encontradas nos seguintes órgãos:

Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan

Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat

Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo – ConpreSP

 

 

ENTREVISTA COMPANHIA DO RESTAURO

Por: Cristina Abreu

Realizamos uma entrevista com um dos responsáveis pela Companhia do Restauro, Francisco Zorzete. Essa equipe já participou, dentre outras obras, da restauração do Monumento às Bandeiras, da Igreja Nosso Senhor do Bonfim (em Salvador), do Museu das Monções (em Porto Feliz) e do Palácio Boa Vista (em Campos do Jordão), entre outros. Confira abaixo:

A Máquina do Mundo (MM): Qual a diferença entre RESTAURO e REFORMA?

Companhia do Restauro (CR): Reforma é um procedimento que um cidadão faz em sua propriedade, em um edifício que não tem interesse histórico, que ele faz a seu bel-prazer. Faz construções e demolições como ele quer, respeitando a legislação, claro. Existem algumas legislações que cuidam da construção que não é de interesse histórico, como Código de Obras, algumas determinações da administração publica. Então, o cidadão pinta com a cor que ele quer, põe o que ele quer, derruba ou constrói parede, põe ou tira porta.

A restauração tem uma metodologia própria para fazer o trabalho de conservação, cuidar e preservar um edifício histórico. Existe até uma metodologia internacional. No mundo inteiro é utilizada a mesma forma de pensar e projetar a preservação do patrimônio, com as cartas internacionais que regem o nosso trabalho [o restauro].   Quando se vai restaurar, não é possível pintar com a cor que ser quer. Isso é decidido após estudos, análises e investigações para saber a história do prédio que será restaurado.  Só depois se opta por uma determinada cor, por derrubar uma parede ou por uma porta. Existe todo um estudo científico que diferencia o restauro da reforma. O restauro é científico, a reforma não.

(MM): Quais são as principais características a analisar no restauro de um edifício tombado? E os cuidados?

(CR): As principais características são: a história do edifício, o sistema construtivo e as patologias. Baseado nisso é possível fazer a restauração de um edifício histórico. É como se fosse o médico. A gente cuida de um patrimônio como um médico cuida de um paciente. A gente estuda o paciente, pede exames laboratoriais, faz testes… É a mesma coisa com um prédio histórico.

(MM): Qual o tempo necessário para fazer um restauro?

(CR): Ele é baseado nas doenças e patologias que o prédio tem. Com um paciente é a mesma coisa. Se um paciente tem um câncer vai demorar muito mais para resolver o problema do que se ele tivesse uma pedra no rim, por exemplo.

Então, dependendo do diagnóstico que se faz no edifício, é possível dizer o tempo necessário para restaurá-lo. Isso também é baseado no estado de conservação do edifício, baseado em um cronograma físico/financeiro que se estabelece.  O cronograma físico são os serviços que você tem que fazer e o cronograma financeiro são os recursos disponibilizados para o restauro.

(*Nota da MM: Se há recursos para ser começar as obras o tempo pode ser menor. A quantidade de dinheiro também influencia nesse tempo de conclusão, pois quanto mais dinheiro, mais rápido se conclui o serviço.)

O Museu está fechado porque chegou a um ponto crítico que obrigou a administração a interditar, e isso é uma pena. O correto a ser feito é “Conservar para não restaurar”. Possivelmente os responsáveis não fizeram isso e tiveram que fechar. Isso é um absurdo…

É assim: se na sua casa tem uma telha quebrada, você faz o quê? Arruma, porque senão molha todo o forro… Mas o que acha que aconteceu no museu? A pessoa viu o problema e não resolveu nada. Provavelmente a atual diretora fez tudo o que ela pôde dentro da administração pública para haver a liberação de recursos para realizar os reparos no prédio. Mas, infelizmente, ela não conseguiu, por isso hoje o prédio está fechado.

(MM): É possível estimar quanto dinheiro pode ser gasto em uma restauração? Como? (como o caso do museu?) – Se não, por quê?

(CR): É claro que tem como ser estimado, mas antes é necessário ter o escopo do serviço.

Depois que se faz um diagnóstico, que se descobre a doença, é verificada uma solução, da mesma forma que um paciente que descobre que tem uma pedra nos rins e opta por uma forma de extraí-la (se com remédio ou cirurgia) sabendo que cada uma delas tem um custo. No prédio de restauro é da mesma forma: se faz um estudo considerando todas as patologias e doenças que o prédio tem, e só aí é possível estimar valores. Levando em consideração que o valor é muito variado, porque as edificações e monumentos são muito variados.

Uma coisa é restaurar um prédio eclético, como é o prédio do Museu Paulista, e outra coisa é vocês restaurar um prédio moderno como é a casa modernista do Gregori Warchavchik, que tem menos elementos decorativos, que é uma obra mais limpa, no sentido de não ter tanta pintura artística. Tudo depende do tipo de arquitetura que se está restaurando. Não tem como falar para um paciente quanto ele vai gastar para tratar uma doença se não for feito todo o diagnóstico.

(MM): E a quantidade de pessoas no trabalho, dá para estimar? Quais profissionais acompanham esse processo? 

(CR): Isso depende do grau de patologias que o museu tem.

Todo o trabalho de restauro é feito por uma equipe que a gente chama de interdisciplinar, composta primeiramente por profissionais de restauro, historiador, engenheiros (elétrico, hidráulico), instrutora, artistas… Depois vêm pintor, pedreiro, eletricista… A gama de profissionais é rica.

(MM): Como começa o trabalho? 

(CR): Não existe trabalho de restauro que não tenha, em um primeiro momento, um projeto [de restauro]. No projeto se estuda todas as patologias que o edifício tem e todas as soluções. No prédio histórico o projeto técnico, desenvolvido para a restauração do edifício, tem que ser aprovado nos órgão de proteção ao patrimônio. Os órgãos de patrimônio podem ser três instâncias: municipal, estadual e federal. O projeto é apresentado nos órgãos competentes e, depois de aprovado, está apto para começar as obras.

(MM): Algumas obras não poderão ser retiradas do museu. Existe risco em fazer restauros em monumentos com obras de arte no local? Quais são?

 (CR): Toda obra de restauro tem risco, e o papel da equipe interdisciplinar é zerar a possibilidade de algum risco. Acredito que o risco maior estava em não se fazer nada. Hoje a gente tem ciência, tem técnica e profissionais habilitados para desenvolver toda a proteção para a obra que permanecerá no ambiente que será restaurado.

 

Para saber mais sobre a Companhia do Restauro, acesse.

 

ENTREVISTA

Por: Vivian Lourenço

Conversamos com o pesquisador Paulo Sérgio Barbaro Del Negro, professor de graduação de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie e arquiteto responsável pela aprovação de projetos no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) da Secretaria de Estado da Cultura, sobre alguns pontos cruciais no processo de restauração de imóveis tombados e/ou históricos. Confira:

A Máquina do Mundo (MM): Quando há a necessidade do restauro do imóvel?

A restauração de um edifício pressupõe que ele atinja um estado avançado de deterioração. A definição de restauro feita por Viollet-Le-Duc em meados do século XIX já afirmava que:

“Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento”.

A ação de restauro está entre a manutenção, a reparação que se faz cotidianamente, sem desativar o uso do edifício, por um lado, e, por outro, a reconstrução que pressupõe que o edifício tenha sido completamente destruído. A ação de manutenção, de reparação (de conservação se você preferir), são ações que estão aquém do restauro. A ação de reconstrução está além do restauro. É por isso que a segunda parte da definição afirma que restaurar é restabelecer um estado completo, estado que o edifício, portanto, em algum momento perdeu, tal é o grau de deterioração a que chegou por falta de manutenção.

Os teóricos do restauro depois de Viollet-Le-Duc, tais como John Ruskin e Camillo Boito, levaram à analogia da restauração com a cirurgia médica. Se o paciente se cuidar, não haverá a necessidade de passar por uma cirurgia, que é uma intervenção traumática para ele. Se o monumento for conservado, não haverá a necessidade de ser restaurado. Infelizmente no Brasil é fraca a cultura da manutenção, o que faz com que diversos edifícios demandem uma intervenção de maior envergadura.

(MM): Como é, na prática, o processo de restauração de um prédio histórico? Quais são as etapas?

As etapas do processo de restauração de um prédio histórico são:

  1.       Pesquisa histórica:

O momento do restauro é o momento do estudo aprofundado do edifício. Na fase da pesquisa histórica, o historiador levanta toda a documentação referente ao monumento que, normalmente, encontra-se nos arquivos públicos e privados. São as fontes documentais, escritas e iconográficas. As fontes escritas são os documentos textuais que se referem de algum modo ao objeto: a escritura de um imóvel, um inventário do proprietário, o processo de aprovação do projeto do edifício na prefeitura, o memorial descritivo, o contrato de obras, um artigo na imprensa quando da sua inauguração (sem vírgula) etc. As fontes iconográficas são todas as imagens relativas ao edifício: desenhos de apresentação, desenhos técnicos para a construção (projeto original), fotografias, filmes, pinturas, a representação do edifício nas plantas cadastrais da cidade, etc.

A pesquisa histórica revela o estado original do edifício e as transformações que ele sofreu ao longo do tempo até o momento da intervenção. Com ela a equipe refaz o seu percurso histórico, distingue as partes originais dos acréscimos, constata a existência de lacunas, eventuais demolições que ocorreram (sem vírgula) etc.

  1.       Pesquisa do objeto:

Levantamento métrico-arquitetônico: Independentemente da existência das plantas originais e de outras plantas que porventura tenham sido elaboradas em algum momento da história do monumento, o processo de restauração pressupõe o levantamento do estado de fato daquilo que foi construído.  O levantamento métrico-arquitetônico, que conta com método específico e é a base para a posterior elaboração do projeto, revela a geometria do objeto com todas as suas “distorções”, por exemplo, a falta de perpendicularidade entre as paredes e de prumo típica das técnicas tradicionais em taipa de pilão. Mas essas distorções podem ter sido causadas por deformações que o edifício tenha sofrido por desequilíbrios estruturais, estáticos (sem vírgula) etc. Revela, ainda, em sintonia com a pesquisa histórica, as alterações, as ampliações, por diferença nas espessuras das paredes, entre outros. O levantamento métrico-arquitetônico inclui o mapeamento gráfico dos danos (umidade, trincas, fissuras, etc.) em plantas, cortes e elevações.

Prospecções: Paralelamente ao levantamento métrico-arquitetônico, realizam-se as prospecções, que são de três tipos: arqueológicas, arquitetônicas e artísticas. As prospecções arquitetônicas revelam os materiais construtivos e a amarração das paredes, a posição de portas e janelas tamponadas e demais aspectos estruturais.  As prospecções artísticas revelam a existência de pinturas murais, de elementos decorativos, as camadas de tinta de pintura das paredes que são realizadas através da abertura de “janelas estratigráficas” (sem vírgula) etc.

Estado de conservação: O diagnóstico do estado de conservação do edifício engloba a análise da degradação química (umidade), da degradação biológica (cupins e fungos) e da degradação física (trincas, fissuras).

  1.       Projeto de restauração: As peças gráficas (plantas, cortes, elevações e detalhes), como em qualquer projeto de arquitetura, e o memorial descritivo dos serviços a serem realizados.
  1.       Obra: A obra de restauração é feita por construtoras que se especializaram na área e conta com o acompanhamento mais assíduo dos arquitetos e dos engenheiros envolvidos na fase de projeto, uma vez que os imprevistos são maiores do que em uma obra de um edifício novo.  

(MM): Quais os profissionais envolvidos nesse processo? 

Além do arquiteto responsável, coordenador da equipe, e dos arquitetos colaboradores, os profissionais envolvidos no processo são: o historiador que participa da pesquisa histórica; o topógrafo que auxilia no levantamento métrico-arquitetônico; o arqueólogo que coordena as prospecções arqueológicas; o restaurador de pinturas murais; os engenheiros especializados em sistemas estruturais tradicionais, em instalações (hidráulicas e elétricas) e, eventualmente, um paisagista. 

(MM): Quanto tempo demora uma restauração?

Obviamente que o tempo depende da escala do edifício histórico em que se está intervindo. Porém, ao contrário de uma nova construção onde a partir do projeto pode-se estimar a duração da obra com mais segurança, uma obra de restauro conta, quase sempre, com imprevistos, surpresas, que a fase de projeto não pode prever. Essa imprevisibilidade das obras de restauração afeta no tempo da obra.

 

Onde encontrar as obras do Museu

O Museu o Ipiranga está fechando por tempo indefinido, mas os visitantes ainda conseguem apreciar suas obras

 

Por: Vivian Lourenço

Para evitar acidentes Museu foi interditado. Interior do monumento também tem vários pontos que precisam ser restaurados
Para evitar acidentes Museu foi interditado. Interior do monumento também tem vários pontos que precisam ser restaurados Crédito: Máquina do Mundo

Estudantes, historiadores e, principalmente, visitantes sentirão falta de poder ver o acervo histórico do Museu do Ipiranga. Porém, a direção do local informou que as obras estão sendo levadas para outros museus e até  para imóveis que poderão ser alugados próximos ao museu, no bairro do Ipiranga. Os imóveis devem passar por algumas adequações para preservar as obras.

De acordo com a diretora do Museu do Ipiranga, Sheila Ornstein, mesmo com o fechamento do local, a conservação dessas obras é realizada diariamente. Há equipes verificando as condições do acervo, além de observar as melhores alternativas, inclusive em termos de custo, para a Universidade de São Paulo (USP). “Vamos dar todas essas opções para o reitor, que irá então decidir qual a melhor situação”, destaca.

Sheila ainda observa que há uma quantidade expressiva de consulentes, de pesquisadores do Brasil e do exterior, que consultam os acervos. “Temos um site muito ativo, uma série de imagens online que podem ser pedidas à Divisão Cultural do museu, mas, como é um museu voltado à pesquisa em cultura material, o contato dos pesquisadores com os objetos é fundamental.”

Um dos locais onde as obras da época da Proclamação da República podem ser vistas é o Museu Republicano Convenção de Itu, no interior de São Paulo. O local é um dos braços do Museu Paulista. “É um imóvel de cerca de 200 anos, onde foi, digamos, tramada a República. Lá a gente tem exposições continuadas, com um acervo local, envolvendo os primeiros presidentes civis do País, mas também envolvendo acervos daqui que a gente leva pra lá. Itu é uma estância turística, um lugar agradável, as pessoas podem perfeitamente ver nossas exposições ali num final de semana”, considera Sheila Ornstein.

Além disso, a diretora também salienta que o Museu está trabalhando com alguns empréstimos para outras exposições. “Por exemplo, existe um acervo muito importante no Solar da Marquesa de Santos, no centro da cidade”.

Também foi aberta recentemente uma exposição sobre a evolução da cidade de São Paulo, sobretudo nas décadas de 1950, 60 e 70, com trabalhos do fotógrafo Werner Haberkorn. Grande parte do acervo dele pertence ao museu. A exposição fica alocada no Centro Caixa Cultural, na Praça da Sé.

Sheila Ornstein garante que há mais locais que receberão as obras do Museu. “Temos um quadro exposto no Palácio dos Bandeirantes. A gente pretende atuar com um acervo que precisa estar exposto num local com características ambientais e de segurança adequados; tudo à base de empréstimos”.

No caso do Ipiranga, continuam as ações do Serviço de Atividades Educativas, que é bastante ativo. Desde que o Museu foi fechado, a equipe responsável pelo setor está trabalhando com contêineres e tendas no Parque da Independência, com atividades em alguns finais de semana e que se intensificam em datas comemorativas, como 25 de janeiro, 7 de setembro e assim por diante.

Serviço:

Museu Republicano Convenção de Itu

Rua Barão de Itaim, 67 – Centro Histórico – Estância Turística de Itu

Tel. (11) 4023 -0240

Exposições:

De terça-feira a domingo, das 10h às 17h.

Telefone: 11 40230240

Entrada Gratuita

 

Solar da Marquesa de Santos

Rua Roberto Simonsen, 136 – Sé
Telefone: 11 3241-1081
e-mail: museudacidade@prefeitura.sp.gov.br

Exposição
Terça a Domingo, das 9h às 17h
Há Serviço Educativo no local
Entrada franca

 

Museu do Ipiranga – História

Por: Marina Bufon Nunes

Foto 1museu (sem legenda)

O Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, foi construído entre os anos de 1885 e 1890 (é importante ressaltar que desde o grito da independência, em 1822, esse espaço tenta ser construído). O projeto inicial foi elaborado por Tomazzo Gaudêncio Bezzi em estilo neoclássico, mas não foi totalmente realizado (as alas laterais não foram construídas), e as obras foram comandadas pelo engenheiro Luiz Pucci.
Inicialmente o museu era destinado a ser um estabelecimento científico, compreendendo o ensino de matemática, ciências físicas e naturais (segundo Taunay, diretor do museu em 1917). No entanto, quando a obra ficou pronta, um empecilho surgiu: a área, castigada por fortes ventos, não era um local apropriado para inúmeros estudantes que ali ficariam em tempo integral. Então, em 7 de setembro de 1895, nasceu o Museu do Ipiranga, que teve como primeira relíquia a coleção do museu do Major Sartório.

O MUSEU

O museu do Ipiranga fica localizado no Parque da Independência (uma área aberta de 16,1 hectares), entre a Avenida D. Pedro I e Rua Padre Marchett, no bairro do Ipiranga. O edifício possui 62 salões e ocupa um território de 6.300 metros quadrados. Nessa área, também se encontram outros marcos históricos, como o Monumento da Independência, a Casa do Grito, os Jardins Franceses, a Capela Imperial e o Museu de Zoologia da USP, os quais serão abordados posteriormente neste texto.

Foto retirada de sociedadedospoetasamigos.blogspot.com

O museu conta com um acervo de mais de 700 mil peças, dentre elas utensílios domésticos, gravuras, fotografias, armas, veículos, mechas de cabelo da Marquesa de Santos, armaduras, armas, manuscritos etc. Além dessas exposições, o museu é um centro de excelência nas áreas de Arqueologia, Etnologia, Geografia e História. Não por menos: toda essa bagagem cultural e histórica merece e deve ser estudada, não somente através das peças, como também através dos 70 mil livros que compõem a biblioteca do museu. No site do próprio museu é possível visualizar algumas delas.

A sala mais procurada do museu é o Salão Nobre. Não por falta de motivo: lá é onde se encontra um quadro produzido especialmente para o museu: “Independência ou Morte”, de Pedro Américo.

Foto 3museu  Foto retirada de visitaipiranga.blogspot.com.br
Foto retirada de: http://visitaipiranga.blogspot.com.br/

O quadro foi finalizado por Américo em 1888, em Florença, na Itália (66 anos após a independência ser proclamada). Quem encomendou a obra foi a própria Família Real Portuguesa, que já investia na construção do museu, com a finalidade de ressaltar a monarquia.

 

Não fique triste, o Museu do Ipiranga está fechado, mas você pode fazer um tour virtual

 

Apesar de muito visitado e arduamente contemplado, há evidências de que o quadro não narra de forma fidedigna o momento histórico da independência do Brasil, como o fato de Dom Pedro não estar utilizando cavalos e sim mulas, os trajes de todos não eram de gala, o riacho do Ipiranga está pintado em lugar errado, o próprio pintor se retratou na obra, apesar de ter nascido muito depois do fato, entre outros fatores.
O museu conta, ainda, com exposições permanentes e temporárias, além de oferecer cursos, seminários e estágios em áreas educacionais.

Imagem retirada de: http://www.mp.usp.br/exposicoes/longa-duracao
Imagem retirada de: http://www.mp.usp.br/exposicoes/longa-duracao

Nesse link, você pode apreciar os pontos mais visitados do museu e de seus arredores.

OS ANOS 70

A década de 1970 marcou um período de declínio para o museu. Há algumas versões para essa triste história. Uma delas é a omissão dos próprios dirigentes da USP, que o dirige desde 1963. Outra afirma que isso ocorreu em decorrência da falta de interesse do governo militar em manter a parte cultural do país em franca expansão. O que os militares fizeram foi utilizar o monumento em prol de seu governo: em 1972, reformaram os jardins, a parte externa e as fontes de água; foi construída uma arquibancada e instalado um equipamento (caríssimo) de audiovisual, que seria o responsável pela apresentação “Luz e Som”, muito famosa na época.

Então, esse “investimento” no museu aumentou a popularidade dos governantes naquele momento, fazendo com que verbas e cuidados fossem destinados a ele (lembrando que sua parte histórica e científica continuou no mesmo patamar, ou seja, “jogadas às traças”). Após período de crise do petróleo e descontentamento do povo em relação ao governo militar, o museu passou por um isolamento absoluto, sendo alvo de vândalos e ponto de casais.
É importante ressaltar, entretanto, que o museu e seus arredores são e foram governados por muitas mãos: o Museu Paulista e de Zoologia são da USP; o Monumento, Capela e Casa do Grito pertencem à União; quem cuida da conservação dos jardins e dos bosques atrás do museu é a Prefeitura.
Conclusão disso? Temos um museu de todos… mas que em vários momentos pareceu ficar sem os cuidados de ninguém.

Clique e amplie!
Clique e amplie o infográfico para outras informações!

PARQUE DA INDEPENDÊNCIA

A construção do Parque da Independência se deu a partir da construção do próprio museu. Após edificação e decisão de que aquele espaço se tornaria o tão conhecido Museu do Ipiranga, o parque começou a ser planejado. A parte frontal foi ajardinada pelo paisagista belga Arsenio Puttermans de 1907 a 1909.

 Parque da Independência (sem data)
Parque da Independência (sem data). Imagem retirada da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária (Rodolfo Martino), pág. 43.

Ele se localiza na Avenida Nazaré e tem uma área total de 161.300 metros quadrados, tendo em seus arredores muitos outros monumentos históricos. Atualmente, apesar de fazer parte de todo esse complexo em reforma, está em funcionamento normal (das 5h às 20h).

 

Foto retirada do site: http://www.prefeitura.sp.gov.br
Foto retirada do site: http://www.prefeitura.sp.gov.br

O MONUMENTO

Foto 7museu sem legenda
O monumento da Independência foi fruto de um concurso realizado no Brasil e também no exterior. Ele foi projetado pelo italiano Ettore Ximenz e inaugurado em 7 de setembro de 1922. Toda a obra veio pronta da Itália, menos o alto relevo, inspirado na tela de Américo. Em seu subsolo foi construída a Capela Imperial, em 1952.

CAPELA IMPERIAL

Foto retirada de: http://imperiobrazil.blogspot.com.br
Foto retirada de: http://imperiobrazil.blogspot.com.br

A capela foi construída com a finalidade de abrigar os despojos da Família Real, entre eles os da Imperatriz Leopoldina (transladados em 1954), os restos mortais de Dom Pedro I (1972), brasões do Brasil, réplicas de espadas e coroas etc.

A CASA DO GRITO
Esse monumento se encontra bem próximo à Avenida Nazaré. É uma construção rústica que ganhou popularidade graças ao quadro de Américo, pois, nesta obra, há a presença de uma casa. No entanto, não há evidências necessárias para se afirmar de que a casa pintada e a Casa do Grito sejam a mesma. Mesmo assim, o monumento ganhou popularidade e permanece sendo visitado.

http://www.terranobre.com.br/
http://www.terranobre.com.br/

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Todas as informações históricas aqui escritas foram retiradas da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária” (Rodolfo Martino).