Pesquisas concluem que a dependência de internet é a nova patologia do século XXI

As novas tecnologias estão tornando as pessoas mais propensas à compulsão de mídias digitais

Por Cristina Abreu

Os vícios mais conhecidos e o novo vicio
Os vícios mais conhecidos e o novo vicio

A preocupação em estar constantemente conectado à internet, e o isolamento do convívio familiar e social são alguns dos sintomas apresentados por dependentes das novas tecnologias. Esse vício vem acometendo a geração Y e prejudica a vida pessoal, profissional e acadêmica.

A equipe do Programa de Dependentes de Internet do Ambulatório dos Transtornos do Impulso (AMITI), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, estuda a dependência de internet desde 2006 e conclui que essa compulsão é o novo transtorno psiquiátrico do século XXI. De acordo com a psicóloga Sylvia Van Enck, do AMITI, “a pessoa não consegue viver sem o aparelho ou sente a necessidade de estar conectada 24 horas por dia”.

Essa patologia, relativamente nova, leva as pessoas à nomofobia, ansiedade de estar conectado, e ao uso compulsivo das novas tecnologias e da internet. As pesquisas e as consultas com viciados em internet revelaram que a dependência está ligada principalmente a quadros de predisposição como transtorno do déficit de atenção e ansiedade, hiperatividade e depressão, além de fobia social.

O estudante de publicidade Gustavo Teixeira Ricardo, de 27 anos, utiliza a internet para trabalhar, mas garante que só fica off-line quando está dormindo. Ricardo confessa que em sua adolescência deixou de sair com amigos e já passou mais de 20 horas on-line. “Nas minhas últimas férias, consegui ficar desconectado por umas duas ou três semanas. Até agora consigo ficar um pouco longe das redes sociais”, comenta.

A falta de convívio social e familiar levam as pessoas a se refugiarem no mundo de conexões virtuais. Esse isolamento acarreta sérias consequências na vida pessoal, profissional e acadêmica. A Executive Coach e Consultora Organizacional, Wilma de Morais, pontua que o abuso da internet no meio corporativo pode levar à limitação do conhecimento e, em certos casos, à demissão.

A dependência das novas tecnologias é notória em sala de aula e já vem prejudicando o desenvolvimento de trabalhos, o raciocínio e a concentração. Segundo o Mestre em Letra, Filosofia e Educação, Daniel Paulo de Souza, “as pessoas não conseguem exercer funções como: estudar ou fazer um trabalho sem se vincularem a algum tipo de tecnologia ou à internet”.

Os dependentes de mídias digitais apresentam abstinência parecida com os viciados em substâncias tóxicas, o comportamento agressivo ou quadro de depressão são indícios da dependência. Os médicos recomendam que, nesses casos, as pessoas procurem o auxílio psicoterapêutico.

 Será que você é um viciado em internet? Faça um teste

 

Onde buscar tratamento e informações: 

Ambulatório dos Transtornos do Impulso (AMITI)

Grupo de Dependência de Internet do Hospital das Clínicas

Self Instituto de Psicologia 

Posiciono

Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) – Possui sistema on-line de atendimento para viciados em Internet

 

 Debate: O impacto das novas mídias nos jovens e adolescentes

 

Para os interessados em se aprofundar no assunto, os estudantes de jornalismo da Universidade São Judas Tadeu realizaram, em 2011, o debate “O impacto das novas mídias nos jovens e adolescentes”. Ouça aqui o debate .

 

Mais informações

Programa: São Judas em Debate

Tema: “O impacto das novas mídias nos jovens e adolescentes”

Mediação: Vagner Chimenes;

Convidados:

Daniel de Sousa – Professor da Universidade São Judas Tadeu e Mestre em Letra, Filosofia e Educação

Vilma Morais – Psicóloga, Executive Coach e consultora organizacional especializada no desenvolvimento de Executivos, lideres e equipes e docente da Escola de lideres da Febraban

Matéria: Relacionamento pela internet

Produção: Cristina Abreu

Reportagem: Mari Azoli

Direção: Daiane Cherry

Sonoplastia: Dagoberto Alves

Coordenação: Roberto D’Ugo Jr

 

Observação: Este é um trabalho acadêmico realizado por estudantes de Jornalismo da Universidade São Judas Tadeu (USJT), o qual foi gravado em 2011, e coordenação pelo professor Mestre em Comunicação Social, Roberto D’Ugo Jr.

 

Muito mais do que torcedores

Eles foram além das arquibancadas, dominaram as redes sociais e agora influenciam dezenas de pessoas

Por:  Vivian Lourenço

Torcer do estádio ou do sofá de casa não é mais o suficiente: comentar, provocar e ter voz nas discussões se tornou essencial para um grupo de torcedores que viu no mundo virtual a oportunidade de declarar não somente o seu amor ao clube, mas também influenciar a opinião de milhares de outros torcedores.

Seja por meio de fóruns, sites e páginas no Facebook, Twitter e Youtube, eles são referência quando o assunto é debater futebol, ou melhor, debater as glórias e os infortúnios do São Paulo Futebol Clube.

Há 10 anos no comando do SPFC1935 , Maurício Renan revelou que sempre gostou de acompanhar tudo o que saia no mundo virtual sobre o SPFC. Porém, no começo do ano 2000, ele percebeu que a quantidade de sites sobre o assunto era escassa. “Ao ver uma matéria sobre a chegada de blogs no Brasil, percebi que não era tão difícil assim ter um site. Foi quando cadastrei no blogger.com e comecei a alimentar ele da forma que eu achava interessante. Ao passar dos tempos à audiência começou aparecer e também o interesse de torcedores para participar no site começou a surgir. E assim iniciou o SPFC1935”.

Equipe do site se reúne para discutir novas ações  para os torcedores e seguidores. Créditos: Divulgação
Equipe do site se reúne para discutir novas ações para os torcedores e seguidores.
Créditos: Divulgação

Com o crescimento do site, a responsabilidade também aumentou. Maurício conta que ao publicar qualquer artigo hoje eles analisam muito bem o jeito que irão abordar essa informação. A questão da profissionalização é outro ponto que mudou bastante. No início era só um “hobby” e hoje eles já veem o SPFC1935 como negócio, o qual muitas empresas acreditam no potencial e acabam virando parceiros. “Toda essa questão faz com que nós tenhamos uma preocupação maior nos pequenos detalhes. Para uma nova pessoa entrar no site, ela precisa responder a um questionário com diversas perguntas e com base nesse questionário nós analisamos se ele tem perfil ou não do site. Tudo isso para não escolhermos pessoas que não se encaixam naquilo que buscamos. Podemos dizer que somos bastante exigentes nestes pontos citados”.

 

Sites dos torcedores ganha espaço na mídia:

Entrevista Na UOL

Matéria na Tv Record

 

Projetos paralelos

Além do site, o pessoal do SPFC1935 criou eventos que visam não somente falar sobre futebol, mas também trabalhar o lado solidário da torcida. “Por exemplo, a campanha de sangue vermelho, branco e preto , onde diversos torcedores vão doar sangue. Essa pequena relação com a torcida é muito gratificante, porque além de ser um representante da voz da torcida são paulina, também sou um torcedor como qualquer outro e essas trocas de informações acaba agregando muito no meu ‘são paulinismo’ e também na geração de novas ideias para o site”.

O ex-goleiro Zetti é um dos ex-atletas que apoia e participa das campanhas solidárias do site. Crédito: Divulgação
O ex-goleiro Zetti é um dos ex-atletas que apoia e participa das campanhas solidárias do site.
Crédito: Divulgação

Além dos eventos, o SPFC1935 conta com o site paralelo, o São Paulindas. Desde o final do ano passado eles mudaram o estilo de matérias e estão valorizando mais a questão “Mulher x Futebol”. O espaço é reservado para publicar diversas matérias que mostram o quanto a torcida feminina vem ganhando força e também no mercado profissional de futebol. “Quanto ao SPFC1935 no geral, o objetivo é aproximar mais dos torcedores e levar informações curtas, objetivas e diretas. Também investirmos mais no áudio visual, além de fidelizar mais os nossos leitores”.

 

Entrevista com os presidenciáveis:

Aidar 

Kalil

Torcedor profissional, sem perder a razão

Tudo que é bom também tem seus lados negativos. Administrar um site que já está na internet há 10 anos é uma responsabilidade enorme. No dia a dia a equipe debate assuntos que estão indo ao ar, mas a questão de comportamento perante a torcida é outro ponto que é motivo de preocupação. Isso se deve ao fato de que o colaborador do site é visto como um comunicador e a equipe precisa saber se todos os envolvidos no projeto estão tendo atitudes comportamentais corretas. “É chamada sua atenção e caso continue com a mesma postura, ele é desligado do site. Muitas pessoas acham que é só colocar um artigo e pronto. Mas não é… Muitas coisas ocorrem na parte interna e são esses detalhes que fazem a diferença. O ponto positivo é você estar próximo do clube, conhecer melhor o clube que você ama relacionar com outros torcedores e também integrantes de outros sites, receber informações em primeira mão e claro, ver que as coisas estão dando certo! É uma gratificação sem tamanho”.

Matérias em grandes portais a respeito do São Paulindas, do SPFC1935. Crédito: Divulgação
Matérias em grandes portais a respeito do São Paulindas, do SPFC1935.
Crédito: Divulgação

Outra dificuldade que Maurício revela é a questão de conciliar vida pessoal, profissional, estudos e o site. Isso ocorre pelo fato de que ninguém “vive” do SPFC1935, mas ao mesmo tempo tudo ali é levado a sério. “É comum no período da madrugada, por exemplo, eu estar enviando e-mails, fazendo relatórios e alinhando procedimentos que saíram do planejado. Esse é o ponto negativo”.

 

O direito de ir e vir pelo mundo

Anteprojeto quer mudar a forma como a lei brasileira trata as migrações

Por: Paulo Hebmüller

O que o Brasil ganha ao dificultar a regularização dos imigrantes? – pergunta a professora Deisy Ventura, da USP Foto: Francisco Emolo/Jornal da USP
O que o Brasil ganha ao dificultar a regularização dos imigrantes? – pergunta a professora Deisy Ventura, da USP
Foto: Francisco Emolo/Jornal da USP

Nos últimos três anos, cerca de 32 mil pessoas ingressaram no Brasil pelo Acre, de acordo com dados do governo do Estado e da embaixada brasileira em Porto Príncipe, no Haiti. Mais de 90% desses imigrantes são haitianos – que fazem do Acre sua principal rota para chegar ao Brasil –, enquanto o segundo maior grupo é de senegaleses, com 7,6%. Dois terços desses estrangeiros foram trazidos pelos chamados coiotes (atravessadores ilegais), e apenas um terço possuía visto das embaixadas brasileiras no país de origem.

Facilitar a regularização migratória para quem quer vir trabalhar é um dos focos do anteprojeto da nova Lei de Migrações e Promoção dos Direitos dos Migrantes, redigido por uma comissão de nove especialistas nomeada pelo Ministério da Justiça. “O que o Brasil ganha com a dificuldade da regularização migratória? O que há de positivo para um país em que os estrangeiros sejam clandestinos? Eles vêm e permanecem irregulares, e isso gera clandestinidades em cascata”, explica uma das integrantes da comissão, a professora Deisy Ventura, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). “Esses cidadãos são muito mais vulneráveis ao crime organizado, à precariedade econômica e à dificuldade de integração social.”

Para a professora, o caso do menino boliviano Brayan Yanarico Capcha, de 5 anos, assassinado em junho do ano passado num assalto à casa da família, na zona leste de São Paulo, mostrou essa vulnerabilidade: sem regularização, seus pais não podiam abrir conta bancária e por isso guardavam todo o seu dinheiro em casa. Só depois do crime a prefeitura firmou um convênio com a Caixa Econômica Federal para facilitar a abertura de contas aos estrangeiros. A regularização também “dribla” a necessidade dos coiotes, porque basta ao imigrante que quer vir trabalhar dirigir-se à embaixada brasileira em seu país de origem e solicitar o visto.

Em maio, o texto preparado pela comissão foi debatido em diversas audiências públicas e também foi publicado na internet para recebimento de sugestões. Nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho, esteve na pauta da I Conferência Nacional de Migrações e Refúgio (Comigrar), realizada em São Paulo.

Veja a cobertura da I Comigrar no blog Migramundo, do jornalista Rodrigo Borges Delfim

 

Novo vocabulário

O anteprojeto agora segue para o Ministério da Justiça e depois tramita no Congresso Nacional. A professora tem consciência de que a negociação política dificilmente preservará a íntegra da proposta original, mas considera que o papel dos especialistas e acadêmicos foi cumprido – além dela, mais três integrantes da comissão são professores da USP.

“O que é definidor de todo o texto é a concepção das migrações sob o viés dos direitos humanos. Pensar sob a perspectiva dos direitos altera toda a sua estrutura”, afirma Deisy. A nova lei deve substituir o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815), promulgado em 1980, durante a ditadura militar. “O Estatuto ainda vigente é um instrumento de segurança nacional, como diversos outros da época”, define.

Numa das audiências públicas de maio, a professora Rossana Reis, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e também integrante da comissão, explicou que havia uma grande preocupação em adequar o texto às diretrizes da Constituição de 1988. “Eliminou-se o vocabulário de segurança nacional e o vocabulário de risco, e incorporou-se o vocabulário dos direitos humanos, do direito internacional, da cooperação, do fortalecimento dos laços sociais que unem os brasileiros e os povos vizinhos e assim por diante”, afirmou.

Outra novidade do anteprojeto é a criação da Autoridade Nacional Migratória, que substituiria a Polícia Federal (PF) nos serviços de imigração. As competências da PF em investigações relacionadas a estrangeiros e ao controle de fronteiras não mudariam em nada, mas os trâmites comuns com os imigrantes não ficariam mais a seu encargo. Para Deisy Ventura, a medida evitaria que os imigrantes passassem pelo constrangimento de tratar de sua documentação e regularização com autoridades policiais – o que de resto não é comum em outros países.

Preconceito contra os pobres

O tema da imigração tem voltado à pauta em função de episódios recentes que – teme a professora – podem distorcer percepções da opinião pública. O principal deles é a chegada a São Paulo de centenas de haitianos concentrada em poucos dias entre o final de abril e o início de maio. Para Deisy Ventura, essa realidade está longe de ter a gravidade de uma “crise”, conforme apregoou a abordagem da maior parte da imprensa: trata-se de pessoas que vêm trabalhar, pagar impostos e contribuir para o desenvolvimento do país. “Eu gostaria que elas fossem tratadas do mesmo jeito que gostaria que nossos bisavós tivessem sido tratados quando chegaram”, diz.

Até 1978, quando deixou de ter essa função, apenas a antiga Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo, localizada no Brás, recebeu ao longo de seus 90 anos de funcionamento 3,5 milhões de pessoas (1,9 milhão de estrangeiros de 75 nacionalidades e etnias e 1,6 milhão de brasileiros de outros Estados). O auge dessa saga se deu na virada na virada do século 19 para o 20: entre 1886 e 1915, chegaram cerca de 2,8 milhões de pessoas, parcela de uma diáspora mundial que, desde 1820, transferiu aproximadamente 50 milhões de pessoas, especialmente da Europa, para o continente americano.

“Uma mudança importante em relação ao passado é que nossos avós e bisavós vinham para ficar no país. Hoje as pessoas ficam enquanto tiverem trabalho, característica dos novos ciclos de imigração no mundo a partir da década de 1980”, avalia a professora Deisy Ventura. Uma das razões da mudança é que a produção na economia globalizada é descentralizada.

No caso da indústria têxtil, que atrai especialmente trabalhadores bolivianos e coreanos a São Paulo, pequenas oficinas costuram para distribuidoras que mais tarde repassam o material à grande comercialização. “Famílias que hoje encontramos em São Paulo poderão ser encontradas daqui a poucos anos em Buenos Aires e depois em Lima, por exemplo. Elas se movem na expectativa de fazer economias e voltar a seu país numa situação um pouco melhor após alguns anos de peregrinação em função do trabalho.”

No caso dos haitianos, bolivianos e outros, a professora enxerga um conjunto de discriminações no qual entra o racismo mas também, sobretudo, o preconceito contra os pobres. “Isso é uma grande incompreensão histórica, porque os nossos antepassados eram muito pobres. Quem veio para o Brasil? Essencialmente pessoas do meio rural empobrecido na Itália, na Alemanha, na Polônia e mesmo do Japão.” Já os estrangeiros dos países ricos, que em geral vêm com vistos solicitados pelo empregador, “são muito bem-vindos”, compara.

Imagem positiva

A imagem equivocada de que o fluxo de haitianos ao Brasil é enorme, descontrolado e representa um grave problema pode justificar a oposição de setores da sociedade à imigração oriunda de alguns países. Porém, os deslocamentos realmente graves, afirma Deisy, são os que expulsam dezenas ou centenas de milhares de pessoas que não têm a opção de retornar, como os refugiados da guerra na Síria. “Há 45 milhões de deslocados forçados no mundo atualmente, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Perto desse contexto, foi um quinhão muito pequeno que nos tocou”, considera a professora, que já lecionou na França e na Suíça.

Vários fatores fizeram com que o Brasil entrasse no mapa da secular diáspora haitiana: o governo brasileiro esteve entre os que mais ajudaram o Haiti depois do terremoto de 2010, que matou cerca de 230 mil pessoas no país. Desde 2004 o Brasil exerce o comando militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), e chegou a promover um jogo de futebol da seleção brasileira contra a seleção haitiana.

 

Conheça a Missão Paz de São Paulo, da Igreja Católica, que há décadas trabalha com a questão migratória 

 

Para Deisy Ventura, enquanto o Brasil estiver em evidência internacional, os imigrantes virão. Eles conhecem os problemas que o País tem, dos quais tomam conhecimento pelos compatriotas que já estão aqui. Porém, a precariedade das condições de vida no lugar de origem entra na conta e, se o cálculo apontar para vantagens em fazer a mala para trabalhar em terras brasileiras, a balança penderá para a viagem. Se o Brasil quiser realmente ser uma potência global, terá que se acostumar com problemas novos, argumenta a professora. “Ser potência tem custo, e um deles é que as pessoas querem vir para cá”, conclui.

Missão Paz é um dos principais pontos de referência para os haitianos que chegam a São Paulo Foto: Paulo Hebmüller
Missão Paz é um dos principais pontos de referência para os haitianos que chegam a São Paulo
Foto: Paulo Hebmüller

Portal de educação profissionalizante, a eduK, completa um ano conquistando cada vez mais fãs (fora das redes sociais também!)

Por: Marina Bufon Nunes

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Foi-se o tempo em que escola era sinônimo de educação. Com a revolução tecnológica, nos deparamos com meios inusitados de aprender: videoaulas, lições via e-mail, Educação à Distância (EAD) e uma infinidade de outros exemplos. No mês de maio, a eduK, plataforma de ensino profissionalizante, completa um ano e vem conquistando cada vez mais adeptos.

A eduK nasceu das mentes e corações de três sócios: Eduardo Lima, Robson Catalan e Bernardo Rezende (Bernardinho, técnico da seleção brasileira masculina de vôlei) e é mantida por muitos profissionais capacitados e empenhados com esse projeto tão ímpar. Ímpar porque os cursos compreendem, principalmente, quatro áreas: gastronomia, fotografia e design, moda e beleza e artesanato, com experts renomados, em aulas ao vivo, on-line e gratuitas. Sim, gratuitas.

Os sócios Robson Catalan, Bernardo Rezende e Eduardo Lima. Foto tirada do site maxxima.com.brc
Os sócios Robson Catalan, Bernardo Rezende e Eduardo Lima. Foto tirada do site maxxima.com.brc

Esse é o grande diferencial da eduK: os cursos são transmitidos ao vivo e gratuitamente a todos aqueles que tiverem em suas casas um computador com internet. Àqueles que desejarem adquirir os cursos, a opção é compra-los através do site. Além do curso, o aluno também tem direito ao material complementar elaborado pelo autor, que compreende uma apostila, atividades e avaliação final, a qual pode render um certificado reconhecido internacionalmente a quem acertar 70% das questões.

Além do Brasil, a eduK também está conquistando a América Latina e México, transmitindo cursos em espanhol para esses países. Outras categorias foram criadas, como a de Negócios e muitas outras já estão sendo pensadas.

A eduK e as redes sociais

Como portal de educação totalmente on-line, a eduK também se mantém muito forte nas redes sociais, construindo elos muito intensos entre a empresa (incluindo os professores-autores) e os alunos, até mesmo entre alunos e outros alunos, que se conectam através do Facebook, LinkedIn, Twitter, Youtube e Instagram.

Uma característica muito interessante do portal é fabricar teasers, pequenos vídeos-propaganda sobre os cursos a serem dados pela plataforma.

Veja aqui alguns teasers interessantes de Gastronomia, Artesanato, Fotografia, Moda, Beleza.

Esses teasers são aperitivos para o curso que está por vir e chama a atenção de muita gente que está indeciso na compra. Adquirindo o curso, o aluno ainda concorre ao sorteio (algo relacionado à área, como batedeira em gastronomia) e pode mandar perguntas através do chat ao vivo. Além disso, existem grupos fechados no Facebook para interação entre os alunos, onde eles trocam experiências, pedem ajuda, dão dicas. Enfim, é uma “experiência eduK”, como eles mesmos costumam chamar.

Essa experiência não fica só por conta dos alunos, mas também dos professores envolvidos no processo. Muitos deles ficam encantados com o profissionalismo, com a doação desses profissionais e, mais ainda, com o carinho do público (os experts ficam assustados com o aumento de representatividade no mercado, mesmo aqueles que já são bem renomados). Em depoimento, a autora do curso de “Encadernação manual artística” (de 21 a 23 de maio de 2014), Tereza Pires, relata a sensação de fazer, pela terceira vez, parte do processo: “Eu fiquei bastante satisfeita. A começar pelo teaser, onde minhas ideias foram aceitas e ainda melhoradas! Amei a disposição e criatividade.Pelos feedbacks que recebo, essa é a receita: bom humor, humildade e abertura ao novo”. Além do autor e apresentador, os cursos também contam com convidados que, na maioria das vezes, são da área. A experiência também se mostra inesquecível para eles.

Primeiro aniversário

No mês de maio a eduK completou um ano e já conta em seu catálogo com mais de 140 cursos, outros ainda sendo lançados. O trabalho é muito árduo e quem assiste às aulas ao vivo não imagina a correria que é para entregar todo aquele material na tela.

Veja o que foi falado sobre a eduK em maio do ano passado

Primeiro existe prospecção de temas e autores, pesquisa de mercado e entre os alunos também. Depois, vem toda a criação do curso: para cada área existe um gestor responsável por todo o conteúdo do curso, o qual, juntamente com o autor-professor, elabora as aulas cuidadosa e incansavelmente. Entre idas e vindas do material, o teaser é feito (e quanto trabalho para a equipe da produção na busca do melhor cenário, melhor tomada, melhor ângulo e por aí vai – trabalho este também feito nos dias do curso ao vivo), procura de convidados, todo o marketing do curso, atendimento dos alunos pelo telefone e internet, design dos materiais, correção de tudo, até, por fim, ter o curso prontinho para ir ao ar (ah, lembrando que depois ele estará disponível no site… Então tem mais uma equipe de TI e também os responsáveis por subir na plataforma todo o conteúdo). É, nem mesmo assim, explicando quase passo a passo, foi possível mostrar o que realmente acontece dentro da eduK.

Para fechar com chave de ouro esse mês de aniversário, a empresa elaborou um curso de motivação e planejamento, que foi ministrado pelo Bernardinho no último dia 31. Em mais um curso inusitado, a eduK comprovou que o diferencial está no inovador, no “fazer com amor”, no seu próprio lema, de que “sucesso é aprender sempre!”.

Equipe da eduK, em março de 2014 (agora a empresa já conta com muito mais funcionários). Foto tirada no curso de “Retratos corporativos”, pelo expert Leo Neves.
Equipe da eduK, em março de 2014 (agora a empresa já conta com muito mais funcionários). Foto tirada no curso de “Retratos corporativos”, pelo expert Leo Neves.

Apresentação

Caros leitores,

É com enorme prazer que trazemos para o seu conhecimento a matéria multimídia sobre o fechamento do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP), mais conhecido como Museu do Ipiranga.

Este trabalho foi elaborado para a disciplina de “Jornalismo e Mídias Digitais” do curso de pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo, ministrado na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Nele, transmitimos, através de textos, entrevistas, imagens e vídeos, as causas, consequências e outras questões do fechamento do museu para restauro, distribuindo-as por quatro canais diferentes, a saber: o blog “A Máquina do Mundo” (onde tudo acontece) e FacebookTwitter e Youtube , responsáveis pela interação direta com vocês, nosso público.

Gostaríamos de agradecer a todos que contribuíram para a realização deste trabalho: os entrevistados, Professora Dra. Sheila Ornstein, diretora do Museu Paulista; Paulo Sergio Barbara del Negro, professor de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie, e Francisco Zorzete, um dos responsáveis pela Companhia do Restauro; aos colaboradores externos, Kei Kamishige, nosso editor de vídeo, Rodrigo Rodrigues, o criador de nossa linha do tempo, Francisco Angelo, da SPTrans, pelos dados sobre o Terminal Sacomã, e a todos que ajudaram, de alguma forma, na divulgação de nossas redes sociais e blog (mais de 215 curtidas em uma semana!).

Esperamos que vocês entrem profundamente na leitura de nossa reportagem assim como nós fizemos ao realizar todo o processo de criação, escrita, escolha de imagens e vídeos, edição e, por fim, exibição do conteúdo.

Boa leitura!

 

Equipe A Máquina do Mundo

Equipe

Cristina Abreu

Fábio Marino

Marina Bufon Nunes

Paulo Hebmüller

Vivian Lourenço

 

A História interditada

O tradicional Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, está fechado para visitação desde agosto do ano passado e se prepara para passar por um grande processo de restauro ainda sem data para terminar

Por: Paulo Hebmüller

Imagem vista de outro ângulo. Vê-se, também, o bosque que ocupa a área de trás do museu e que também vem causando problemas de fungos e umidade. Foto retirada de blog.brenosiviero.com.br
Imagem vista de outro ângulo. Vê-se, também, o bosque que ocupa a área de trás do museu e que também vem causando problemas de fungos e umidade. Foto retirada de blog.brenosiviero.com.br

A notícia pegou os paulistanos de surpresa no início de agosto de 2013: o Museu Paulista da USP – mais conhecido como Museu do Ipiranga – fechava suas portas à visitação para passar por uma série de reformas sem prazo para terminar. O imponente prédio de 6,3 mil metros quadrados e 62 salões, centro das atrações do Parque da Independência e marco do desenvolvimento da região do Ipiranga, era uma das instituições culturais mais visitadas do País, recebendo de 2.500 a 3 mil pessoas por dia.

O palacete em estilo neoclássico italiano foi inaugurado há mais de 120 anos, e em sua história sofreu diferentes intervenções – várias delas, por sinal, ao longo do tempo revelaram-se inadequadas aos padrões e tipos de materiais utilizados na construção. Por conta da manutenção deficiente à qual o edifício vinha sendo submetido nos últimos anos, a direção já sabia que seria necessário fechar suas portas para um longo processo de recuperação das instalações.

Para evitar acidentes Museu foi interditado. Interior do monumento também tem vários pontos que precisam ser restaurados
Para evitar acidentes Museu foi interditado. Interior do monumento também tem vários pontos que precisam ser restaurados Crédito: Máquina do Mundo

Dois fatores, porém, anteciparam a decisão. O primeiro foi o desplacamento de um trecho do forro central de um salão do segundo piso da torre oeste. Havia o risco de um descolamento total desse forro, o que provocaria a queda de cerca de 20 toneladas de material de uma altura superior a dez metros – todas as salas da construção têm pé direito alto, de 10 a 15 metros. O mesmo tipo de problema atingiu um trecho do forro do Salão Nobre do edifício, onde está exposta a obra mais conhecida do Museu: o quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo. A saída foi impedir a visitação para que o escoramento dessas estruturas pudesse ser feito sem colocar em perigo funcionários e o público.

Sheila Ornstein Foto: Francisco Emolo (Jornal da USP)
Sheila Ornstein
Foto: Francisco Emolo (Jornal da USP)

“Não podemos dizer que o responsável pelo quadro atual é a USP, ou este, ou aquele, mas há todo um conjunto de situações que levaram a esse estado”, diz a diretora do Museu, Sheila Walbe Ornstein, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP – a Universidade administra a instituição desde 1963. Para a arquiteta, a preocupação da direção do Museu Paulista e do reitor e vice-reitor da USP (respectivamente Marco Antonio Zago e Vahan Agopyan, empossados em janeiro deste ano) é de que seja realizado “um trabalho de restauro integral muito bem feito e com muita qualidade”. “Por isso é que estamos fazendo um planejamento, incluindo diagnósticos e projetos, extremamente rigoroso”, completa.

Leia mais:

Tombamento, uma contribuição para a história

Livro reúne 50 histórias sobre o Museu

A história do Museu do Ipiranga

Depois do fechamento, outras salas receberam escoramento, inclusive a biblioteca, que abriga inúmeros volumes raros. Com essas medidas, parte da equipe de cerca de cem funcionários da instituição pôde voltar a trabalhar no prédio. Outra parte, inclusive a própria diretora – que assumiu o cargo em março de 2012 –, está trabalhando numa casa que o Museu já utilizava como anexo, ao lado do Parque da Independência. A copa desse imóvel foi adaptada para receber a diretoria.

Parque o Ipiranga continua com funcionamento normal
Parque o Ipiranga continua com funcionamento normal Crédito: Máquina do Mundo

Ainda no segundo semestre do ano passado, falava-se numa previsão de reabertura somente para o ano de 2022, coincidindo com o bicentenário da Independência do Brasil. Essa estimativa, no entanto, não é mais confirmada. Embora não verbalizado, o desejo da direção e da USP é de que o prazo seja menor.

O ano de 2014 será o dos levantamentos dos problemas (o diagnóstico), elaboração de projetos para o grande processo de restauro e retirada dos acervos do edifício. Só depois disso é que se poderá começar a falar mais objetivamente em prazos e custos, observa Sheila Ornstein: “Sei que é a intenção do atual reitor realizar as obras no menor espaço possível, mas a gente precisa ainda fechar algumas dessas variáveis da equação de forma mais concreta para dar uma informação mais precisa, tanto de tempo quanto de custo. A ideia da Reitoria é ir atrás de recursos também externos, e para isso precisamos terminar essas etapas de diagnósticos e projetos, porque somente a partir dos projetos a gente consegue orçar.”

 

Mudanças e sobrecarga

A ideia de erguer um edifício-monumento para celebrar a Independência no local em que o “grito do Ipiranga” teria sido dado foi do próprio imperador D. Pedro I, logo após a proclamação de 7 de setembro de 1822. Entretanto, a obra só começaria a ser construída em 1885, sendo inaugurada cinco anos depois. O uso do prédio também mudou ao longo do tempo, e por isso muitas alterações foram feitas nele, inclusive em sua estrutura.

Por todos os lugares, pintura está descascando. Restauração prevê devolver cor original do monumento.
Por todos os lugares, pintura está descascando. Restauração prevê devolver cor original do monumento. Crédito: Máquina do Mundo

Essas mudanças, conforme explica Sheila Ornstein, começaram já nos primeiros anos de existência. Da concepção inicial de um edifício-monumento que abrigaria poucas obras – como “Independência ou Morte”, pintura feita especialmente para o prédio –, logo se passou a utilizar os espaços para um museu de história das ciências naturais, cujo acervo mais tarde daria origem ao vizinho Museu de Zoologia da USP.

Quanto mais finalidades eram dadas ao local, mais espaço era necessário para abrigar as peças. Nas décadas de 1930 e 40, uma grande reforma foi feita no subsolo, responsável pela ventilação higiênica do prédio. As chamadas fundações diretas, de grande porte e feitas com pedras e argamassa, foram cortadas para a criação de áreas expositivas e salas administrativas. A ruptura da continuidade das fundações gerou uma desestabilização das torres que só foi corrigida décadas depois, já no início dos anos 90.

Área interna do Museu Paulista da USP. Foto retirada de www.scielo.br
Área interna do Museu Paulista da USP. Foto retirada de http://www.scielo.br

O Museu do Ipiranga abriga hoje um impressionante acervo de cerca de 700 mil peças: são livros, documentos de vários tipos, mobiliário, obras de arte, louças, medalhas e até veículos. Receber todo esse volume de material não estava previsto no projeto original, o que acarreta sobrecarga às estruturas. Outros fatores que ao longo do tempo contribuíram para a deterioração do prédio foram a maior ocorrência de chuvas ácidas, fruto da industrialização da cidade, e os abalos provocados pelo tráfego pesado e constante de carros, ônibus e caminhões – coisa que os idealizadores do palacete jamais imaginariam quando projetaram sua construção num ponto elevado e então isolado de São Paulo.

 

Acervo será retirado

Entre julho de 2013 e janeiro de 2014, uma equipe interdisciplinar, incluindo técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e outros especialistas, trabalhou no diagnóstico das áreas externas, abrangendo todas as fachadas, a caixilharia (portas-balcão em madeira), coberturas, claraboias, recuperação das argamassas externas, pinturas e coletores de águas pluviais. O relatório com o resultado das análises e ensaios foi entregue no início de março e servirá de base para os projetos de restauro.

Em relação ao interior do prédio, primeiramente será feita a retirada de todos os itens do acervo. “Por que tirar tudo antes de qualquer obra e mesmo antes do diagnóstico? Porque isso envolve recolha de amostras de argamassa e muita movimentação de operários, e aqui é uma área de segurança. Além disso, essas ações, mesmo numa fase de projeto e diagnósticos, envolvem muita poeira, e poeira não combina com acervos”, explica a diretora. Alguns itens serão cedidos para exposições em outros locais.

Os funcionários vêm mantendo as condições de higienização de todos os itens ainda expostos e da reserva técnica. A direção está fazendo cotação de imóveis na região do Ipiranga e também de depósitos especializados que possam receber o material durante os trabalhos de restauro. O acesso ao acervo nesses locais precisa ser mantido durante todo o período em que o Museu estiver fechado para que os funcionários possam garantir sua conservação adequadamente, e também para que os muitos pesquisadores que se utilizam dos arquivos, documentos e peças como fontes não tenham seu trabalho prejudicado.

Salão Nobre com visitação antes do fechamento para restauro. Ao fundo vê-se a obra Independência ou Morte, de Pedro Américo. Imagem retirada de www.usp.br
Salão Nobre com visitação antes do fechamento para restauro. Ao fundo vê-se a obra Independência ou Morte, de Pedro Américo. Imagem retirada de http://www.usp.br

O quadro “Independência ou Morte” é a única obra que não será retirada. O risco de que a peça sofresse danos com a remoção é grande devido ao tamanho e ao peso do quadro e sua moldura (somente a tela tem 4,15m de altura por 7,60m de largura). “Chegou-se à conclusão de que a melhor situação para ele é ser protegido contra impactos e qualquer dano aqui no edifício”, diz Sheila Ornstein.

Todas as etapas do restauro serão acompanhado pelos órgãos de preservação do patrimônio histórico, uma vez que o prédio e seu acervo são tombados em nível municipal, estadual e federal

Como funciona o processo de restauro

Companhia de Restauro fala sobre o assunto

“Vamos manter a população informada sobre esse passo a passo das atividades que envolvem o restauro do Museu”, garante a diretora. Nada mais justo, em se tratando de um patrimônio que diz respeito à história do Brasil e, portanto, a todos os brasileiros.

Confira mais vídeos da entrevista com a diretora do Museu, Sheila Walbe Ornstein

Ipiranga – história de São Paulo

Por: Marina Bufon Nunes

Hoje tomada por trânsito, pessoas das mais diversas classes sociais, paisagens urbanas muito diferentes das encontradas em livros e documentos históricos, a região do Ipiranga é considerada um grande marco histórico para a cidade de São Paulo e também para o Brasil. Infelizmente, os dados e imagens históricos dos tempos de suas origens são escassos, e tentarmos reviver aquele século XVI torna-se um pouco complicado – mas não impossível.

A região

A região do Ipiranga se localiza na zona sul da cidade de São Paulo e seu nome faz alusão ao riacho do Ipiranga (apesar de controvérsias sobre a interpretação da palavra, a versão mais aceita é de que “ipiranga” significa em tupi “lugar onde correm terras barrentas”).

 

Foto 1bairro
Imagem da localização do bairro retirada de http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cd/Ipiranga.png

O Ipiranga, por sua localização geográfica, se consagrou como caminho a ser passado por muitos viajantes vindos da região central da cidade em direção à Serra do Mar. Não é por acaso que Dom Pedro I, chegando de uma viagem por Santos, proclamou ali a independência do Brasil em 1822, às margens do riacho do Ipiranga, o que consagraria o lugar como marco nacional.

Marco do provável local da Proclamação da Independência (1918). Foto retirada da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária (Rodolfo Martino), p. 48
Marco do provável local da Proclamação da Independência (1918). Foto retirada da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária (Rodolfo Martino), p. 48

A região do Ipiranga também se desenvolveu de outras formas. A construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1867) permitiu que ela se tornasse mais industrial (a posterior inauguração da estrada Anchieta, em 1947, possibilitou isso ainda mais). O Museu Paulista da USP, mais conhecido como Museu do Ipiranga, bem como o Monumento e o Parque da Independência, também foram vetores de atração para a região. Aqui fica claro que, por vezes, a história desse bairro se confunde com a história do próprio país.

Em 1900, São Paulo tinha com uma população de aproximadamente 240 mil habitantes, e a região do Ipiranga começou a colaborar bastante para o aumento desse número. Isso se deu, entre outros fatores, pela industrialização desse local. A primeira indústria construída foi a Irmãos Falchi, no ramo da cerâmica. Em 1905, a Sacoman Frères e Cerâmica Vila Prudente tornaram-se suas concorrentes. Indústrias têxteis também fizeram parte desse cenário.

Junto a essas indústrias, máquinas e funcionários cada vez mais se tornavam parte do bairro – e, para haver essa movimentação de pessoas, bondes e trens foram necessários. A primeira linha de bondes foi inaugurada em 1900 e trabalhou por 67 anos. Já as de ônibus eram muito precárias, escassas e caras, tornando-as pouco utilizadas na época. Um dado interessante é o salto populacional impulsionado pela industrialização da área, juntamente com a implantação desses meios de transporte coletivo: em 1920, a população do Ipiranga era de 12 mil habitantes; em 1934, já somava 40.825.

 

O Ipiranga hoje

O Ipiranga é um distrito que engloba os seguintes bairros: Alto do Ipiranga, Dom Pedro I, Ipiranga, Vila Carioca, Vila Eulália, Vila Heliópolis, Vila Independência, Vila Monumento e Vila São José, com população estimada em 94.787 mil pessoas em uma área de 10,5 km² (dados de 2010 – IBGE). Juntamente com os distritos Sacomã e Cursino, compõe a região que também leva o nome Ipiranga, com população de 425.932 habitantes[1].

A chegada de outros meios de transporte coletivo, como o metrô, atraiu à região muitas pessoas em busca de cultura, lazer e ensino. Diante disso, a expansão imobiliária foi inevitável, e aquele cenário vazio encontrado em imagens antigas é hoje irreconhecível.

Foto do bairro do Ipiranga hoje[2]
Foto do bairro do Ipiranga hoje[2]

Nesse bairro se encontram avenidas de trânsito pesado (Anchieta, Imigrantes, Bandeirantes, Ricardo Jafet, Tancredo Neves, entre outras); a favela de Heliópolis, hospitais, hipermercados… Enfim, todos os sintomas de um grande complexo urbano.

Na área, além dos monumentos, há muitas escolas e universidades (unidades da PUC e da São Camilo, por exemplo), postos de saúde, comércio, bibliotecas, feiras livres, centros esportivos e culturais. Os equipamentos de mobilidade se tornam cruciais para a região. O Ipiranga é servido por estações da Linha 2-Verde do Metrô. Uma delas, a Sacomã, funciona junto ao terminal de ônibus do Sacomã, que tem uma demanda média de 55 mil usuários. São oito plataformas, sendo seis no piso térreo e duas no segundo andar, onde para a linha 5105-10, do Expresso Tiradentes. No terminal operam 24 linhas municipais, sendo 18 da empresa Via Sul e seis da Cooperativa Cooperpeople. Há ainda 18 linhas intermunicipais, gerenciadas pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), que vêm dos municípios vizinhos de São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Diadema e Mauá.

Não só focado em atividades industriais, o bairro também conta com muitas opções culturais e gastronômicas além das já comentadas, como o Museu de Zoologia da USP, o Museu do Automóvel de São Paulo, clubes atléticos, o SESC Ipiranga, o Aquário de São Paulo e o Mercado Municipal do Ipiranga, além de cinemas, teatros, restaurantes, shoppings etc. Não é à-toa que a densidade populacional ali é de 90,27 hab/ha.

 

A região concentra grande quantidade de monumentos tombados: Instituto Padre Chico, Educandário Sagrada Família, Internato Nossa Senhora Auxiliadora, Instituto Cristóvão Colombo, entre outros, o que a faz ser uma espécie de museu a céu aberto na cidade.

 

Para mais informações sobre a história desse bairro tão peculiar da cidade de São Paulo, visite.

Todas as informações históricas aqui escritas foram retiradas da dissertação “Museu do Ipiranga: A nova imagem de uma instituição centenária” (Rodolfo Martino).

 

Livro reúne 50 notícias sobre história do Museu

Por: Paulo Hebmüller

Em 2009, uma pesquisa feita com moradores sobre a relação que os paulistanos têm com a sua cidade listou pessoas, lugares e instituições identificados como “a cara de São Paulo”. Na categoria museu, o mais votado pelos entrevistados foi o Museu do Ipiranga, enquanto o Monumento da Independência foi o escolhido na categoria monumento. A notícia, publicada no Jornal da Zona Leste, inspirou o título do livro Cara de São Paulo, lançado no início deste ano pelo Museu Paulista da USP.

livro cara de sao paulo

O volume reúne 50 notícias sobre os museus Paulista e Republicano Convenção de Itu, em comemoração ao cinquentenário de incorporação das instituições pela Universidade de São Paulo. Nesse período, cerca de 10 mil notas, notícias e reportagens foram publicadas em jornais, rádio, TV e internet sobre os museus. O conjunto das 50 notícias selecionadas “privilegiou matérias especiais de cobertura de temas importantes na trajetória de nossos dois museus: a incorporação à Universidade, em 1963, as exposições realizadas, as comemorações do centenário da instituição, os projetos especiais de restauração, documentação e aquisição de acervos, a participação em datas importantes para a História do Brasil e as obras e projetos relacionados ao edifício-monumento”, escreve na apresentação a diretora Sheila Ornstein.

As notícias selecionadas foram publicadas em veículos como O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal da USP, Veja e jornais de circulação local, como Ipiranga News e Gazeta do Ipiranga. A organização do trabalho coube a Dorival Pegoraro Junior e Eduardo Loria Vidal, respectivamente chefe da Divisão de Relações Institucionais e assessor de imprensa do Museu Paulista. As reportagens foram reproduzidas com a diagramação e conteúdo originais de cada veículo.

O livro, feito em parceria com o Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP, é acessível para o público com deficiência visual, pois apresenta caracteres em Braille e versão em DVD com audiodescrição, em formato e-daisy. A versão impressa tem tiragem inicial de 500 exemplares, com distribuição gratuita e sem fins lucrativos. O conteúdo também pode ser acessado no site do Museu Paulista na internet, em PDF e no formato e-daisy (audiolivro).

Acesse 

 

 

 

Tombamento contribui para a memória histórica

Sob a guarda do poder público os bens de valor histórico, cultural ou ambiental são protegidos de destruição ou descaracterização

Por: Cristina Abreu

Se hoje temos obras de artes e monumentos históricos, é porque houve a preocupação de preservação da memória histórica e cultural de nosso país. E, para que exista a interação entre o novo e o antigo foi criado o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1937 que deu início ao processo de reconhecimento do valor histórico, artístico, cultural e ambiental, de bem móvel ou imóvel.

O tombamento, como é conhecido, pode ser feito, por exemplo, em fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, cidades, regiões, florestas ou cascatas. E, é feito com a avaliação e registro que podem ser feitos pelo Poder Publico, nos níveis: Federal (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan); Estadual (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat) e Municipal (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo – Conpresp).

De acordo com o Iphan o tombamento se inicia com uma avaliação técnica e é encaminhado para a discussão às unidades técnicas responsáveis pela proteção aos bens culturais da nação. Se aprovado, o proprietário ou quem abriu o processo é comunicado e esta notificação indica que o bem está sob proteção legal até que seja aprovado o processo de tombamento, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O tombamento só é válido após a aprovação do conselho e o mesmo é homologada no Ministério Público e publicada no Diário Oficial. O prazo pode variar de processo para processo, por isso o prazo mínimo não é estipulado pelos conselhos.

Uma vez tombado, o patrimônio está sob a guarda do poder público e para eventuais restaurações, como no caso do Museu do Ipiranga, é necessária a elaboração do projeto de restauro. “No projeto se estuda todas as patologias que o edifício tem e todas as soluções”, explica Francisco Zorzete, Diretor Superintendente do escritório Companhia de Restauro, escritório técnico que concedeu entrevista à Máquina do Mundo. O projeto de restauro concluído é encaminhado aos órgãos de proteção ao patrimônio para ser aprovado. As obras só podem ser iniciadas com o aval dos órgãos onde o patrimônio está registrado.

Veja o que a Diretora do Museu do Ipiranga falou sobre os tramites relacionados ao tombado do monumento.

Dados oficiais

 

O Museu do Ipiranga foi tombado do dia 15 de abril de 1938 e as informações sobre o processo estão disponíveis no livro de Lista de Bens Culturais Inscritos nos Livros do Tombo (1938 – 2012). Neste livro estão registrados ainda mais de 45 mil bens imóveis tombados que fazem parte de 97 núcleos históricos protegidos. Abaixo dados sobre bens tombados e que estão registrados no Iphan:

 

Bens Culturais sob Proteção – 2013 (Dados do Iphan)
TIPO ESPECIFICAÇÃO QUANTIDADE
Bens Móveis Documentos textuais 3.400 metros lineares
Fotografias, mapas e plantas (iconografia) 906 mil
Livros e documentos bibliográficos 834 mil
Objetos pertencentes a museus (acervos) 250 mil
Bens integrados 417 mil
Bens Imóveis Conjuntos urbanos ou rurais 97
Edificações isoladas, equipamentos urbanos e ruínas 910
Jardins e parques históricos 10
Bens Arqueológicos Sítios arqueológicos tombados 6
Acervos arqueológicos tombados 7
Sítios arqueológicos cadastrados 19.790
Patrimônio Ferroviário Bens valorados 435
Patrimônio Naval Embarcações 4
Acervos 1
Paisagens Paisagens naturais tombadas 17
Paisagens culturais chanceladas 1

 

 Mais informações sobre processo de tombamento podem ser encontradas nos seguintes órgãos:

Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan

Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat

Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo – ConpreSP

 

 

ENTREVISTA COMPANHIA DO RESTAURO

Por: Cristina Abreu

Realizamos uma entrevista com um dos responsáveis pela Companhia do Restauro, Francisco Zorzete. Essa equipe já participou, dentre outras obras, da restauração do Monumento às Bandeiras, da Igreja Nosso Senhor do Bonfim (em Salvador), do Museu das Monções (em Porto Feliz) e do Palácio Boa Vista (em Campos do Jordão), entre outros. Confira abaixo:

A Máquina do Mundo (MM): Qual a diferença entre RESTAURO e REFORMA?

Companhia do Restauro (CR): Reforma é um procedimento que um cidadão faz em sua propriedade, em um edifício que não tem interesse histórico, que ele faz a seu bel-prazer. Faz construções e demolições como ele quer, respeitando a legislação, claro. Existem algumas legislações que cuidam da construção que não é de interesse histórico, como Código de Obras, algumas determinações da administração publica. Então, o cidadão pinta com a cor que ele quer, põe o que ele quer, derruba ou constrói parede, põe ou tira porta.

A restauração tem uma metodologia própria para fazer o trabalho de conservação, cuidar e preservar um edifício histórico. Existe até uma metodologia internacional. No mundo inteiro é utilizada a mesma forma de pensar e projetar a preservação do patrimônio, com as cartas internacionais que regem o nosso trabalho [o restauro].   Quando se vai restaurar, não é possível pintar com a cor que ser quer. Isso é decidido após estudos, análises e investigações para saber a história do prédio que será restaurado.  Só depois se opta por uma determinada cor, por derrubar uma parede ou por uma porta. Existe todo um estudo científico que diferencia o restauro da reforma. O restauro é científico, a reforma não.

(MM): Quais são as principais características a analisar no restauro de um edifício tombado? E os cuidados?

(CR): As principais características são: a história do edifício, o sistema construtivo e as patologias. Baseado nisso é possível fazer a restauração de um edifício histórico. É como se fosse o médico. A gente cuida de um patrimônio como um médico cuida de um paciente. A gente estuda o paciente, pede exames laboratoriais, faz testes… É a mesma coisa com um prédio histórico.

(MM): Qual o tempo necessário para fazer um restauro?

(CR): Ele é baseado nas doenças e patologias que o prédio tem. Com um paciente é a mesma coisa. Se um paciente tem um câncer vai demorar muito mais para resolver o problema do que se ele tivesse uma pedra no rim, por exemplo.

Então, dependendo do diagnóstico que se faz no edifício, é possível dizer o tempo necessário para restaurá-lo. Isso também é baseado no estado de conservação do edifício, baseado em um cronograma físico/financeiro que se estabelece.  O cronograma físico são os serviços que você tem que fazer e o cronograma financeiro são os recursos disponibilizados para o restauro.

(*Nota da MM: Se há recursos para ser começar as obras o tempo pode ser menor. A quantidade de dinheiro também influencia nesse tempo de conclusão, pois quanto mais dinheiro, mais rápido se conclui o serviço.)

O Museu está fechado porque chegou a um ponto crítico que obrigou a administração a interditar, e isso é uma pena. O correto a ser feito é “Conservar para não restaurar”. Possivelmente os responsáveis não fizeram isso e tiveram que fechar. Isso é um absurdo…

É assim: se na sua casa tem uma telha quebrada, você faz o quê? Arruma, porque senão molha todo o forro… Mas o que acha que aconteceu no museu? A pessoa viu o problema e não resolveu nada. Provavelmente a atual diretora fez tudo o que ela pôde dentro da administração pública para haver a liberação de recursos para realizar os reparos no prédio. Mas, infelizmente, ela não conseguiu, por isso hoje o prédio está fechado.

(MM): É possível estimar quanto dinheiro pode ser gasto em uma restauração? Como? (como o caso do museu?) – Se não, por quê?

(CR): É claro que tem como ser estimado, mas antes é necessário ter o escopo do serviço.

Depois que se faz um diagnóstico, que se descobre a doença, é verificada uma solução, da mesma forma que um paciente que descobre que tem uma pedra nos rins e opta por uma forma de extraí-la (se com remédio ou cirurgia) sabendo que cada uma delas tem um custo. No prédio de restauro é da mesma forma: se faz um estudo considerando todas as patologias e doenças que o prédio tem, e só aí é possível estimar valores. Levando em consideração que o valor é muito variado, porque as edificações e monumentos são muito variados.

Uma coisa é restaurar um prédio eclético, como é o prédio do Museu Paulista, e outra coisa é vocês restaurar um prédio moderno como é a casa modernista do Gregori Warchavchik, que tem menos elementos decorativos, que é uma obra mais limpa, no sentido de não ter tanta pintura artística. Tudo depende do tipo de arquitetura que se está restaurando. Não tem como falar para um paciente quanto ele vai gastar para tratar uma doença se não for feito todo o diagnóstico.

(MM): E a quantidade de pessoas no trabalho, dá para estimar? Quais profissionais acompanham esse processo? 

(CR): Isso depende do grau de patologias que o museu tem.

Todo o trabalho de restauro é feito por uma equipe que a gente chama de interdisciplinar, composta primeiramente por profissionais de restauro, historiador, engenheiros (elétrico, hidráulico), instrutora, artistas… Depois vêm pintor, pedreiro, eletricista… A gama de profissionais é rica.

(MM): Como começa o trabalho? 

(CR): Não existe trabalho de restauro que não tenha, em um primeiro momento, um projeto [de restauro]. No projeto se estuda todas as patologias que o edifício tem e todas as soluções. No prédio histórico o projeto técnico, desenvolvido para a restauração do edifício, tem que ser aprovado nos órgão de proteção ao patrimônio. Os órgãos de patrimônio podem ser três instâncias: municipal, estadual e federal. O projeto é apresentado nos órgãos competentes e, depois de aprovado, está apto para começar as obras.

(MM): Algumas obras não poderão ser retiradas do museu. Existe risco em fazer restauros em monumentos com obras de arte no local? Quais são?

 (CR): Toda obra de restauro tem risco, e o papel da equipe interdisciplinar é zerar a possibilidade de algum risco. Acredito que o risco maior estava em não se fazer nada. Hoje a gente tem ciência, tem técnica e profissionais habilitados para desenvolver toda a proteção para a obra que permanecerá no ambiente que será restaurado.

 

Para saber mais sobre a Companhia do Restauro, acesse.

 

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